domingo, 30 de junho de 2013

Despindo um pouco mais uma protagonista

 
 
 
Meus súditos me seguem para onde eu for, embriagados com meu doce veneno e jeito mordaz. Não me adore. Não chore. Não quero suas esmolas. Sinto pena de você... No fundo estou pouco me lixando para sua vida. Amo quem me destrói, mas me ensina com histórias, pois morro cada pouco, um pouco mais, com a dádiva que me acorrenta e condena.
 
Gostaria de fincar meus pés em solo mais uniforme; num mundo mais plano... Sem essas imensas montanhas, rochas e depressões; ladeiras íngrimes que nos jogam em queda livre, velozmente direcionadas ao penhasco. Cansa tentar subir de novo até o ponto em que estava antes. Por esta razão fiz de minha morada as cavernas mais remotas, isolada e escondida do caos, questão de autopreservação. Após muito tempo refletindo e consumindo minha própria loucura, rendi-me ao mundo sujo. Atualmente bebo todos os venenos da humanidade e decapto os sonhos um por um por sede de sabotagem; quero ser a compositora das minhas melancólicas músicas melancólicas, que canto com toda a força de meus pulmões. Sei que aqui é preciso trabalhar pra ser e existir, agir de acordo com o recomendado na bula, mas ainda acredito que sobreviver é, nesta Terra, prostituir-se. Tenho a consciência de que nada me pertece além do que você pode me dar e, acredite, irei despi-lo e  deixá-lo às avessas. Espero que esteja armado com um boa história, caso contrário corroeirei suas lembranças, pois almoço minhas vinganças ainda quentes....
 
 

Arbítrio


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Construindo o caráter de uma das protagonistas - tentativa de estabelecer um tom para sua "voz"

 
 
Fomos ensinados a sobreviver e não a viver. Sou demasiadamente metafórica para o mundo externo e demasiadamente superficial para atender ao que ele me cobra. Aliás, cobram tudo. Consomem tudo. Belo fast food esta merda toda. Cansamos rápido e partimos para novos atrativos para desgustar. Eu sei... sou assim também.
 
Engolem, mal digerem e já nos defecam. E, assim, acabamos como parasitas intestinais prontos para devorar as entranhas do próximo. Vermífugo funciona sim, temporariamente: Nos curamos da nossa própria doença até que a ânsia retorne, esfomeada. Voltamos a inspirar a fumaça asfixiante. Somos viciados em nos engolir e sermos eternos hospedeiros dentro do corpo daqueles que melhor nos servirem. Para tanto, vendemos nossas alma e colocamos em liquidação nossos princípios. Comercializados e reciclados. Isso nos transforma em verdadeiras putas; igual a vocês... Putas merecidas.
 
De algumas verdades sufocadas e repletas de mentiras, lhes mato entre as palavras de suas histórias e fujo para sempre...

Reflexões rascunho protagonista - Parte: A procura de Deus

Vamos! Apareça logo! Quero minhas verdades! Não acredito que minha existência é apenas ficar questionando sobre a existência! Cansei de viver como observadora distante, que plana onipresente neste mundo onde todos buscam respostas para perguntas erradas. Minhas iguais também acreditam que há algo além do que conhecemos e vemos habitualmente ao nosso redor, mas ninguém se move frente às mudanças, ficam estagnadas no conformismo de suas indagações.

Quem repete sempre os velhos pensamentos numa perspectiva similar está criando clones para um velho mundo, digo-lhes...  Somos espelhos, refletimos o que observamos e após milênios admirando, em silêncio, mais do mesmo, foi que minha curiosidade rugiu alto e segui em busca das divindades que se ouviam como mitos...
 
Durante a jornada me deparei com diversas figuras incomparavelmente errôneas  daquilo que buscava. Afinal, se Inri Cristo fosse Jesus, ele seria moderno, usaria calça skinny e all star. Ele foi descartado da minha (im)possível lista. Alguma outra pessoa se habilita? Podem abaixar as mãos: Cid Moreira, Walter Mercado,  Mãe Diná, Henry Sobel, Zeus e Aquiles, com seu frágil tendão. Seus discursos são tão repetitivos, enfadonhos e inoperantes! Vocês não são meus Deuses e não encontrarei em nenhum a minha redenção.
 
Desolada com as decepções de minha jornada, descobri em mim o Deus que procurava. Precisa apenas de estímulos para viver, crenças para me sustentar e histórias para me alimentar. As pessoas se recordarão de meu nome, criarão altares e farão homenagens em prece antes de seus jantares em família, sustentarão rituais absurdos para pedir minha proteção e me darão em troca suas memórias... Caso contrário terão que rezar para se protegerem contra mim. Devoro-os...

terça-feira, 11 de junho de 2013

Personagem Z - a lembrança vs encontro

Meu olhar esperançoso – apenas o olhar, pois meu corpo permanecia em inércia - cruzou a Avenida e se fixou nela. Os milhares de carros rasgavam velozmente o asfalto cinzento de cimento, fazendo dela, flashes, como revista em quadrinhos. Lá estava ela, em sua frente, mas não havia coragem suficiente... Pronunciei um som qualquer pelos lábios entreabertos para chamar sua atenção, porém, sem sucesso, foi abafado pelas buzinas e freios dos automóveis da barulhenta e acessa cidade; não insisti.

Ela é a paisagem perdida no tempo, de um compasso que não toca mais no mesmo ritmo que o meu. Fico contente apenas em observar seus ansiosos passos; parecia que sabia estar sendo observada,  Como se aguardasse o improvável e espontâneo momento, sem saber que este instante estava por vir...

Havia retornado. Até quando? Não importa.